Só agora compreendo o porquê do Hotel Pacific ser considerado o mais luxuoso do Reino Unido. Antigamente aquele local fora um palácio barroco e por isso, que tanto por fora como por dentro, era extremamente extravagante. O brilho dourado realçava os arcos que compunham-na. O teto era forrado por pinturas de temática religiosa, as paredes e o piso eram cobertos por mármore branco italiano, a decoração reunia as maiores obras de artes do mundo e a iluminação impecável ofuscava os olhos de quem entrasse, com o enorme lustre de cristal.

-Nossa! Onde fomos parar? -perguntou Lucas, espantado com tanta riqueza.

-Não sei... Mas pelo jeito teremos que nos acostumar com isso.

Dizer que não me hospedei em hotéis luxuosos seria mentira, já que por causa da minha carreira, precisava viajar a diversos países. Mas esta seria a primeira vez que estaria em um hotel super luxuoso como esse. Só gostaria de saber o custo de uma diária aqui. Será que devo me atrever a fazer este tipo de pergunta?

-Bem-vindos! Ora, é muito bom saber que temos novos turistas na cidade! -disse-nos o gerente, cujo porte lembrava um mordomo da Vossa Majestade.- Vão querer um quarto?

-Sim! -respondi ainda espantada.

Ao mirá-lo minuciosamente, fez-me lembrar de um sonho que tive, em que eu era uma princesa que possuía vários empregados a minha disposição e um deles era muito parecido com ele.

-Olá! Bem-vindos a Denaly! -disse-nos a recepcionista, que acabara de voltar ao hall.- Quantas suítes vão querer?

-Dois!-disse-me direcionando a Lucas.- Não sabemos quanto tempo ficaremos aqui. Por isso é melhor que cada um de nós tenha o próprio quarto.

-Certo! Aqui estão as chaves! -disse, entregando-me.- Tenha uma boa estadia! -sorriu gentilmente.

-Obrigado! -agradeceu Lucas.

Sentia-me aliviada em saber que essa recepcionista fora bem cordial conosco. Só de lembrar daquela invejosa, fazia até me sentir mal.

Subimos pela escada imensa que havia no hall. No primeiro andar havia tantos quartos que nem dava para distinguir uma da outra. Sorte que havia numeração. Assim, entramos cada um em seu quarto e nos acomodamos antes de caminhar pelas ruas de Denaly. Eu aproveitei a ocasião para pular na cama de princesa (coisa que não costumo fazer), que de tão macia, nem dava vontade mais de sair de lá. Fiquei nessa folia por cerca de meia hora, até me cansar de agir infantilmente.

Partimos logo em seguida para nossa aventura. A cada passo que dávamos, deparávamos com imensos castelos e mansões. Era surpreendente constatar que havia tantas vegetações em uma cidade urbana como essa, apesar de parecer mais com uma cidade da Era Georgiana. As ruas eram amplas e cobertas por árvores e arbustos, e as florestas eram enormes e estavam presentes em vários pontos. Enquanto admirávamos toda aquela pompa, acabamos topando com um vasto muro, o qual havia um imponente portão e nele possuía as letras IM gravadas em ouro maciço:

-Precisa de tantos muros aqui? Não eram para eles protegerem essas letras em ouro, que com certeza devem valer uma fortuna? Será que lá dentro deve haver algo que valha mais que isso? -perguntou-me Lucas, analisando aquele local.

-Não tenho a menor ideia! Deve ser porque está bem ao lado dessa enorme fábrica. -apontei.

O imóvel ocupava todo o quarteirão, além de também haver um imenso portão, porém, desta vez gravada com a letra W:

-Acho que esse pessoal é idiota! Para que tanto luxo para uma simples fábrica? -disse Lucas, indignado.

-É, acho que eles são um pouco exagerados. Mas vamos logo ao nosso objetivo: Encontrar pistas de meus pais!

Infelizmente o meu dia não fora gratificante como esperava. Não sabia dizer qual cidade nos tratou pior, se é aqui com pessoas que se faziam de desentendidas ou em Durco com a frieza dos moradores. Eram nessas horas que preferia voltar a Brywood e esquecer a existência de meus familiares insensíveis, que me abandonaram quando era somente um bebê.

 

II

Eram quase vinte e três horas da noite. Como estava com insônia, decidi caminhar pela cidade desacompanhada, visto que Lucas já estava dormindo há muito tempo, em função das caminhadas longas que fizemos o dia todo. Para a minha surpresa, Denaly não era nada do que diziam os boatos. O esplendor da cidade desaparecia assim que anoitecia. O lugar era tão ermo que até duvidava que havia vidas aqui. Foi o que pensei enquanto caminhava até os confins distraidamente. Quando percebi, sentia tanto medo que a única coisa que pensava era correr desenfreadamente. Corri tão rápido, mas tão rápido que nem dava para ver direito o que estava a minha frente. E como não tinha senso de controle, logo que avistei um vulto, não consegui frear e acabei esbarrando nele:

-Tu és louca? Não olhas para onde andas, não? -praguejou-me uma voz feminina.

Virei-me para ver com quem tinha esbarrado e para a minha surpresa, era uma linda garota, que mais parecia uma princesa de tanto brilho que havia em sua roupa. Seus olhos eram azuis esverdeados que nem o meu e seu cabelo era de cor ouro 24 quilates, que até doía os olhos só de vê-los.

 

 

-Desculpe-me! Eu não te vi. Eu... -interrompi a frase, com o intento de mudar o assunto.- Desculpe-me a franqueza, mas para que tanto brilho? -perguntei.

-Parece-me que tu não és daqui. -analisou- Bom, deixe-me apresentar! Meu nome é Emily von Weber.

-Prazer em conhecê-la! O meu nome é Sophie Smith. E mais uma vez, desculpe-me por ter te esbarrado! -desculpei-me nervosamente.

-És a Sophie Smith, a modelo teen internacional? -perguntou-me entusiasmada.

-Er, sim.

-Não acredito que estou em frente a uma famosa como tu! -pulou alegremente.- Nem percebi que eras ela. A luminosidade desse trecho é horrível...

-Percebi... -por que será que essa rua era tão mal iluminada? Será que estava em manutenção?, pensei.

- Mais tarde poderias dar-me um autógrafo? -pediu-me, com um enorme brilho nos olhos.

-Sim, sim!

Acho que nunca encontrei uma garota tão alegre como ela.

-Emily... -disse uma voz distante.

-Mamãe! Mamãe! -gritou.- Sophie Smith está na nossa cidade!

-Oh! Quem diria... -exclamou a mãe de Emily, que apesar de ser extremamente magra, era linda e sua beleza era realçada com seus cabelos curtos louros e olhos azuis esverdeados.- Prazer em conhecê-la! Meu nome é Marcella von Weber e esta é a minha filha Emily. -sorriu.

Mesmo que ela sorrisse, transparecia a sua feição tristonha.

-Prazer em conhecê-la, Sra. von Weber. -respondi com certo nervosismo.

-Vejo que Emily conseguiu uma nova amiguinha, não é? E tenho certeza que virá estudar no nosso Instituto, não é? -perguntou, fixando os olhos em Emily.

-Não sei, mamãe. Acabei de conhecê-la e pode ser que ela seja uma turista... -respondeu Emily, hesitante.

-Turista? -exclamou em um tom de decepção- És turista?

-Não exatamente. Sou somente nova moradora do Hotel Pacific. -disse a elas.- Então vocês poderiam me explicar uma coisa? -mudei de assunto.- Para que serve aquele muro alto que fica ao lado da fábrica? -perguntei, sem me importar se havia acabado de conhecê-las.

-Não sabes? Aquele é o Instituto Medic, lar das crianças e adolescentes mais famosos da região. É o colégio mais rígido e mais fluente do país, além do que, minha mãe é uma das donas. -disse-me Emily, com extremo orgulho.

-Que legal! Então aquela fábrica é a famosa Fábrica Weber de roupas?

-Isso mesmo! -afirmou Marcella.

-Interessante... -pensei.

Marcella despedira-se de nós e voltara para casa, enquanto que eu e Emily fomos até a cafeteria e ficamos conversando por longo tempo:

-Nossa! -exclamou Emily, assustada.- Sua mãe nunca te contou isso? Como ela pôde ter feito isso contigo?

-Eu sei, mas eu não podia brigar com ela, já que estava para morrer... -respondi, quase chorando.

-Então a única pista que ela te deu foi que teus pais moravam aqui? Bom, há milhares de moradores... Acho que vai ser difícil encontrá-los agora.

O que Emily me dissera era pura verdade. Como eu poderia encontrá-los numa cidade de 25 mil habitantes?

 

06 - Instituto Medic