Com o fim das férias chegando e uma vida nova a se formar, minha estadia em Denaly não poderia ter se tornado mais do que perfeita. E o que eu mais agradecia era poder ter conhecido Emily e tudo o que ela me proporcionou em tão pouco tempo.
Antes de iniciar mais um ano letivo, Emily e Marcella resolveram viajar para a Itália para visitar os avós, que segundo elas me contaram, não os viam há bastante tempo.
Enfim, fiquei sozinha naquela cidade e não tinha nada para fazer, exceto reclamar do imenso calor de verão que reinava no ar. Isso fazia eu pensar se Denaly ficava mesmo na Inglaterra. Tudo era tão mágico por aqui e dava até a impressão de que localizava-se em um mundo paralelo. Que imaginação a minha... Esse calor realmente estava afetando a minha sanidade mental.
Para refrescar a mente e sair dessa ociosidade, decidi chamar Lucas para passear comigo:
-Lucas, você faria a gentileza de passear com sua irmã? –perguntei, tentando ser o mais formal possível.
-O que é isso? Resolveu adotar o modo Emily de falar? Isso não combina com você! A Sapinha que eu conheço não se importa com o que fala e não está nem aí para os erros de gramática! -protestou.- Então, para onde vamos? – mudou de assunto rapidamente.– Pensei que você queria ficar em casa já que sua amiguinha não está na cidade... –disse Lucas, lendo o livro que ele ganhara de Marcella na última visita que fizemos na casa dela.
-Por isso mesmo! Emily iria me levar para os lugares mais caros e não me deixaria pagar nada. Hoje quero conhecer a parte “menos rica” da cidade! Vamos? Ou você prefere ficar lendo esse livro que está de ponta cabeça? -perguntei, olhando fixamente para os olhinhos doces de meu anjinho.
-Você me conhece, hein? Vamos! Desculpe a mãe da sua amiguinha, mas nunca que eu vou ficar perdendo o meu tempo para ler esses livrinhos de romances... Eca! -disse, enquanto arremessava o livro em direção a cama dele.- Eu sou mais eu!
O mais engraçado de passear com Lucas era que ele adorava os mesmos lugares que eu. Podia ser o canto mais insignificante que fosse, mas para mim e para o meu irmão era algo novo e inusitado, pois não chegava a um terço do que tínhamos em Brywood.
Enquanto caminhávamos em volta da praça principal, uma figura linda e esbelta apareceu do outro lado da rua. Era um garoto completamente belo, mas por estar longe, o que se enxergava era apenas a formosa silhueta e exuberantes olhos azuis que brilhavam conforme a luz do sol.
Estava tão profundamente hipnotizada pela beleza daquele rapaz, que eu nem havia percebido que Lucas me chamava desesperadamente no final do trajeto:
-Sophhhhhhhhhhhh!!!!! –gritou Lucas.
Minha vontade naquele momento era correr para o outro lado da rua e conversar com aquele garoto, mas como Lucas era ainda apenas um menino e não entenderia essa situação, resolvi voltar de novo à realidade e ir correndo ver o que o meu pequeno anjinho queria:
-O que foi Lucas? Por que essa gritaria? Aconteceu alguma coisa? -perguntei ainda ofegante com a corrida que tive que fazer para alcançar o ritmo de Lucas.
-Você é muito estranha! O que te fez sair do mundo? Foi aquele carinha ali? –perguntou ele, apontando para o garoto que agora conversava com algumas pessoas.– Seja mais discreta! Assim, vai assustar o rapaz! -repreendeu.
-Que conversa é essa, Lucas? Você sabia que não tem idade para ficar dizendo essas coisas? Onde aprendeu isso? Você é apenas uma criança! -disse chocada.
Assim, discuti com Lucas por alguns minutos, até ele resolver ir correndo em direção à loja de doces romenos que havia próximo à fonte. Como já sabia que o meu anjinho não queria falar sobre isso, deixei de lado essa revelação chocante e fui correndo atrás dele.
II
Na véspera do tão esperado primeiro dia de aula, recebi um pequeno bilhete dourado de um carteiro, cuja aparência, mais lembrava um mordomo. E como era de se supor, tratava-se do próprio Instituto Medic:
"Cara Srta Smith,
É com orgulho e grande satisfação que comunicamos que tua matricula foi aceita em nosso Instituto. Com uma bolsa no valor de 100%, um fato histórico e nunca antes visto em nossa instituição, tu acabas de entrar para a lista dos alunos mais notáveis do Instituto Medic!
Nossos mais singelos parabéns!!!
Contamos com a tua presença no dia 05 de setembro, segunda-feira, no nosso primeiro dia de aula!
Aguardando vê-la brevemente,
Diretor Aron Medic & Diretora Marcella Von Weber
P.S.: Esperamos que os alunos compareçam amanhã, dia 1º de setembro, quinta-feira, para a checagem e arrumação dos quartos. E para o teu maior conforto, teus materiais escolares serão entregues junto com o boleto de pagamento. Contamos com tua presença!"
O quê? As aulas não começariam amanhã? Como assim? E como ficaria a carga horária? E as nossas férias? Isso era um ultraje! Eu não poderia aceitar uma tamanha irresponsabilidade como essa!
-Soph, o que aconteceu? Porque essa cara de quem vai matar alguém? –perguntou-me Lucas, juntando-se a mim na porta da sala.
-Aqui está! -disse, entregando a carta e procurando não olhar para o rosto de meu irmão.- Chegou a carta do Instituto Medic para você!
-Pelo jeito, deve ser bomba! -afirmou, enquanto ia abrindo a carta.– Só quero ver...
Ficou um silêncio por cinco minutos, até Lucas começar a gritar alegremente:
-Gut! As aulas não começam amanhã!! Temos que festejar!! Quero doces!! –disse Lucas, pulando de alegria.
-Como você pode ficar feliz em um momento como este? Isto é uma tragédia grega! Como vamos conseguir acompanhar o ritmo das outras escolas se estaremos dois dias atrasados? –disse, quase entrando em colapso.
-Soph, pare de ficar histérica! O problema vai ser deles! Não se preocupe com isso! Tudo vai dar certo! Ah, e quero o meu doce! –disse-me Lucas, mostrando a língua.- Você devia ficar mais feliz, sua chata! As aulas são entediantes e...
Agora que estava pensando... E o Lucas? Quanto de bolsa ele recebeu? Com uma velocidade surpreendente, corri para pegar o bilhete dele. E para o meu alívio, ele foi incrivelmente bem:
"Caro Sr. Smith,
Comunicamos que tua matricula foi aceita em nosso Instituto com o valor de bolsa de 98%, uma nota muito notável em nossos alunos!
Nossos mais singelos parabéns!!!
Contamos com a tua presença no dia 05 de setembro, segunda-feira, no nosso primeiro dia de aula!
Aguardando vê-lo brevemente,
Diretor Aron Medic & Diretora Marcella Von Weber
P.S.: Esperamos que os alunos compareçam amanhã, dia 1º de setembro, quinta-feira, para a checagem e arrumação dos quartos. E para o teu maior conforto, teus materiais escolares serão entregues junto com o boleto de pagamento. Contamos com tua presença!"
Pelo que a Emily me contou, estudar no Instituto Medic sem bolsa integral custaria 60 mil libras por ano. Fiquei chocada com esse preço exorbitante, mas ela me disse que o valor seria ainda mais caro se o governo britânico e milhares de empresas multinacionais não financiassem, e que o valor nesse caso, até quintuplicaria. Achei que fosse um exagero da parte dela, mas depois vi que não... Ainda mais com o porte daquele colégio renomado... Pelo menos só vou pagar mil e duzentas libras do meu irmãozinho e não terei preocupações com a minha situação financeira...
-Ha ha ha... Etes-vous heureux de toute façon? -perguntou-me uma voz familiar por detrás de meu ombro.
Quando me virei, lá estava Emily, com seu cabelo ouro 24 quilates e suas roupas mais brilhantes do que de costume. Ela agora sorria enormemente para mim:
-Ah, Soph! Não acredito que finalmente vamos estudar juntas! Tu sabes o quanto sonhei com isso? É uma felicidade sem tamanho saber que minha melhor amiga agora é umas das alunas mais brilhantes do Instituto! Ah, isso me deixa totalmente feliz! Como sou demais, não é? Só eu tenho essa capacidade divina de fazer as pessoas ficarem mais inteligentes! –disse Emily, que agora entrava em minha casa sem nenhum constrangimento.
-Emi!! Assim você me mata de susto! E aí? Como foi a viagem? Pensei que só nos veríamos amanhã... Você não precisa descansar? E como fica a sua mãe? Ela precisa de ti? Emi! E agora? Eu estou te separando da sua mãe...
-Sophie, fica calma! Minha mãe está bem. Não se preocupes com isso! Além disso, eu não aguento mais descansar! Minha linda pele não pode ficar muito tempo em um travesseiro... E vós como andais? Soubeste que amanhã tu irás receber um prêmio? Estou tão contente com essa tua façanha que penso em fazer uma roupa especial para esta ocasião! Hmm... Vamos ver... –disse pensativa, enquanto ia pegando algo dentro de sua “pequena” bolsa.
-Emi, o que é isso? Como você pensa fazer isto aqui? Esqueceu? Não tenho nada aqui que você possa usar...
-Estás muito enganada, Sophie. Eu sempre ando preparada para isso! -disse autoconfiante.- Achas que eu ando com esta bolsa grande para nada? Na verdade, tenho todos os materiais dos quais eu necessitarei... Agora, fica parada! Preciso de concentração máxima! Hmm... Vamos ver por onde eu começo...
Depois disso, minha amiga desenhou uns vinte modelos de roupa em menos de uma hora. Não sei se fico mais chocada com ela ou com essa cidade...
III
Com a mudança para o Instituto marcada para o dia seguinte, acabei tendo que dormir na casa de Emily, o que não foi nenhum sacrifício, pois ela e Marcella providenciaram as minhas coisas num instante! E assim, logo eu e Lucas já estávamos acomodados em sua bela casa, comendo e aprontando em nossos quartos.
-Ai, Sapinha, como você não ficou aqui em Denaly? Olhe isso! Nunca vi tanta guloseima na minha vida! Agora posso morrer em paz! -disse Lucas, se fartando de doce.
-Lucas, que vergonha! Você não tem noção de que estamos como visita nesta casa?
-Acalme-se, Soph! Vós sois os meus convidados! E como meus convidados, espero que aproveitem tudo o que eu vos oferecer! -disse Emily, sorrindo gentilmente.- E Soph, será que podemos conversar? De preferência, em meu quarto?
-Ei! Porque eu não posso ir com vocês? -protestou.- Só porque sou mais novo não significa que...
-Shh! Come doce, ok? Eu e Soph precisamos ter uma conversa de meninas! Vamos, Soph? –disse Emily, já na porta da cozinha.
No caminho, Emily ficou calada o tempo todo. O seu silêncio era estranho. Era como se houvesse uma parede entre mim e ela e um enorme vazio estivesse se estabelecido sobre nós duas.
Continuamos vagando naquele corredor sombrio e infinito, até que depois de dois minutos, paramos em frente a uma imponente porta em que era possível ver que havia vários botões e um identificador de digitais.
-Emi, o que é isso? –perguntei, surpresa.
-Segurança! Não quero ninguém entrando no meu mundo! Isso é precioso demais para mim!
-Desculpe-me pela pergunta, mas... Onde dormia a Victoria? Vocês dormiam no mesmo quarto?
-Ali... –disse ela, apontando para uma porta no final do corredor.– Não abrimos aquele quarto há 12 anos... Vamos entrar? Quero conversar contigo no meu mundo. Pode ser?
-Lógico! -respondi, com certa preocupação.
Enquanto Emily digitava a senha, fiquei pensando o porquê de tanta aquela segurança. O meu momento de devaneio foi interrompido com um som de Tocata e Fuga em Ré menor do compositor Johann Sebastian Bach.
-Para que esse som macabro, Emi? Não poderia ter escolhido um som mais delicado?
-Não! O som tem que dar aquele impacto quando eu entro. Tu me entendes, não é?
-Acho que sim... -hesitei.
A porta se abriu e nela saiu fumaça de gelo seco. Ao nos aproximarmos do quarto, uma forte iluminação ofuscou os meus olhos. Ficava me perguntando como que a minha amiga conseguia dormir em um quarto tão iluminado como esse...
Para a minha surpresa, a forte iluminação foi diminuindo de intensidade e logo era possível ver o tão precioso quarto da Emi. Se eu dissesse que parecia que estava em outro mundo, não seria mentira.
O quarto era imenso e poderia dizer com precisão de que era do tamanho de um terço da minha antiga mansão. O teto era surpreendentemente alto e nele, havia além da luminária de cristal imponente, várias correntes de cristais conectadas a ela, dando a impressão de que o local era um paraíso perdido, e também, um teto solar que podia ser ativado por um comando.
O mais surpreendente era que havia uma iluminação especial, da qual dava a sensação de que estávamos em uma outra galáxia. Diz a Emily que se tratava de um projetor que ela mesma inventara e patenteara. Só podia mesmo ter saído da mente dela essa ideia estranha...
As paredes forradas de ouro 24 quilates em combinação com o mármore branco italiano, recriava o mundo da antiga aristocracia europeia. Os móveis tinham um design antigo, o que combinava com a arquitetura imponente do quarto.
Nela havia várias portas, sendo que uma dava acesso a um amplo banheiro, outra ao seu imenso closet, a sala de estudos, a biblioteca particular, além de uma sala de cinema privativa. Enquanto que no quarto, havia uma ampla varanda em que era possível ver toda a cidade de Denaly, um mezanino que dava acesso ao centro de observação espacial e por último, havia uma gigantesca cama de princesa que ficava em cima de uma plataforma redonda.
Após o grande choque que tive com esse quarto extravagante, eu e Emily nos sentamos na cama fofa e macia dela e ficamos conversando e discutindo sobre as novas tendências de moda por um tempo. Por distração minha, comecei a falar sobre o modo como os meninos se vestiam:
-Às vezes eu não entendo os meninos... Porque será que eles se vestem que nem marginais? É que nem aquele menino, Callum... acho que era esse o nome dele. Aff!! Ele parecia mais um moleque de rua...
-O Weston Bowyer? –perguntou-me Emily, com uma cara de preocupação.
-Sim, acho que era esse o sobrenome dele.
-Soph... Como tu o conheceste? -perguntou, indignada.- Mas o Phil disse-me que ele não é uma pessoa confiável...
-Phil? Quem é esse? -perguntei.- Mas, eu conheci o Callum antes de você! Estava em Durco procurando noticias sobre meus pais e acabei parando em um pequeno café chamado Coffee’s True, local onde eu o conheci. Só isso!
-Phil é o meu amigo! Quero dizer, meu melhor amigo. Antes de tu chegares, era ele quem eu enchia de mimos... Mas o Weston Bowyer não é uma pessoa que tu devas seguir, Soph. Ele é um ser maligno! Isso é um conselho de uma amiga que gosta muito de ti! Não confie muito nesse sujeito!
-Calma Emi! Eu nem o conheço direito... Apenas lembrei-me de como ele se vestia... –disse, mentindo.– Mas vamos mudar de assunto? Você viu como criticaram aquele salto da grife Always na primavera passada?
A verdade era que eu não queria mudar de assunto. Graças ao Callum, nunca mais tive noites tranquilas, depois que cheguei a Denaly. Ele era o motivo de minhas últimas angústias e preocupações. Era como se eu precisasse ajudá-lo de alguma forma... Como se eu necessitasse tirar aquela cara de amargura e sofrimento que ele havia demonstrado naquele dia... Como se ele sentisse necessidade de minha amizade... Afinal, por que me preocupo tanto com Callum? Por quê?
IV
Deixei a minha indagação de lado naquela noite e assim dormi tranquilamente e acordei bem cedinho no dia seguinte. Fui até a janela do quarto em que estava hospedada e fiquei lá pensando novamente em como poderia ajudar o Callum.
Lucas acordou 2 horas depois que me levantei e dessa forma, aproveitei para descer e tomar o café da manhã com Emily, que já estava a minha espera há um tempo na cozinha.
-Estás preparada para mudar a tua vida completamente? –perguntou-me Emily, entregando-me uma xícara de chá.
-Mais do que preparada, amiga! Hoje acordei bem cedo e fiquei pensando na vida. Sabe... cheguei a uma conclusão!
-Verdade? Então, conta! Qual decisão tu tomaste?
- Irei até o fim na busca pelos meus pais! E mais do que isso, farei as pessoas felizes que nem você! E para começar, vou procurar o Callum...
-De novo o Weston Bowyer? Soph, quantas vezes eu tenho que repetir? Ele não é uma pessoa confiável!
-Mas você o conhece realmente? Sabe quem ele é?
-Lógico. Aqui em Denaly e em Durco todos o conhecemos. Ele é um dos filhos adotivos do casal Durcem, os prefeitos de Durco... Mas me diz, por que tu queres tanto ajudá-lo?
-Ah, porque ele me pareceu uma pessoa muito triste quando eu o conheci... E ele foi bom comigo. Por isso, queria retribuir essa gratidão, fazendo-o feliz.
-Mas não é bem assim, Soph. Ele não merece essa tua preocupação. Ele não é capaz de entender o significado de bons sentimentos. Por favor, eu peço-te... Não! Eu imploro-te para que não o procure nem por decreto! -ordenou.
-Okay! -concordei, um pouco contrariada.
Após essa conversa, fui para o quarto e arrumei as últimas coisas que faltavam em minha mala. Finalizada a tarefa, fiquei alguns minutos só pensando na conversa que tive com Emily e cheguei à conclusão de que ela poderia estar mais do que certa. Afinal de contas, por que eu estava querendo salvar a vida de um cara que havia conhecido em apenas um dia? Isso não era normal, ainda mais vindo de mim.
E assim saímos da casa de Emily às seis e meia, pois o comunicado avisava que deveríamos estar às sete horas para realizar as devidas acomodações e arrumações dos quartos.
Chegamos às seis e quarenta e cinco no Instituto Medic. Lá já havia muita gente no portão, portando bagagens e acessórios, só esperando dar o horário de abertura para que pudessem descobrir a classificação dos quartos.
Emily era a mais impaciente de todas. Andava de lá para cá, perguntando a todos quando o portão abriria e se alguém tinha noção de como seria a classificação. Isso irritou muita gente, pois se ela que era a filha da diretora não sabia de nada, como os alunos normais poderiam saber?
Dadas às sete horas em ponto, o portão foi aberto e assim todos nós, alunos e alguns professores, pegamos nossas bagagens e entramos naquele local que seria por um bom tempo o nosso lar doce lar.
Dirigimos-nos até o local da lista de classificação dos quartos e para minha surpresa, estava exatamente no mesmo lugar onde havia a lista de classificados. E lá estava escrito:
Logo que vimos a lista, Emily teve um colapso. Ela ainda não acreditava que nós duas estávamos no mesmo quarto. Mas eu me pergunto se isso não era óbvio demais...
-Não acredito que ficamos no mesmo quarto! Minha mãe é demais mesmo! Eu sabia que ela veria a nossa amizade! Amo-te, mamãe! –gritou Emily, anunciando a todos a alegria dela.
-Que bom, né? Estou feliz...
-Ai amiga... eu sou demais mesmo! Porque ter-te como uma amiga, é a mesma coisa que dizer que estou completa! Adoro-te, Soph! -disse Emily, abraçando-me fortemente.
-Também amiga... mas, vamos para o nosso novo quarto? Estou louca para ver como é.
Os nossos pertences seriam entregues pelos empregados da Emily em uma enorme caminhonete, devido à imensa quantidade de malas de minha amiga. Vindo dela, isso já era de se esperar.
De acordo com o mapa, os dormitórios localizavam-se na área norte do campus do Instituto. Pela imensidade do local, não dava para saber se era muito longe ou perto do prédio escolar. Para variar, Emily teve uma daquelas ideias mirabolantes dela:
-Para que vamos perder tempo gastando os nossos delicados pés se podemos muito bem andar de Segway?
-Segway? Emi, não seja preguiçosa! Qual é o problema em andar um pouquinho?
-Um pouquinho? Soph, teríamos que andar duas milhas até chegarmos ao alojamento! -protestou.
-Duas milhas? Mas isso seria mais de meia hora de caminhada! E se nós nos atrasarmos? Como vai ficar? A sua mãe não tem dó da gente?
-Acho que não! Mas, de qualquer maneira, melhor usarmos o Segway! Rápido, confortável e prático, não achas? -disse Emily, piscando para mim.
-Certo, mas como funciona? Nunca andei nisso...
Emily me ensinou como andar no Segway por alguns minutos e assim, partimos em direção ao tão falado alojamento. Ao chegarmos ao local, deparamos com uma bela mansão branca:
-Este será o nosso alojamento? -perguntei chocada.
-Sim. É reservado somente aos alunos do 12º ano. Como podes ver, a ala norte do campus é dedicada ao alojamento...
-Isso eu percebi... -disse, ainda mais chocada.
-Não é só isso! Cada alojamento possui empregados, chefes de cozinha e mordomos próprios, além de salas de estudos, sala de jogos...
-Já estava imaginando que você falaria isso...
-Bom, já que sabes como funciona por aqui, então vamos logo procurar pelo nosso amado quarto!
-Vamos!
Tudo era lindo dentro do alojamento. Parecia até aquelas mansões cinematográficas...
-O nosso quarto fica no segundo andar! -disse-me Emily.
-Segundo andar? Eu pensei que fosse no primeiro...
-É óbvio que não! O primeiro andar é só para alunos comuns. Nós, os alunos brilhantes, ficamos no segundo...
-Então os quartos são maiores e especiais?
-Isso! São só dois quartos! Um para as meninas e outro para os meninos...
Enquanto Emily contava o quão importante era morar em quartos especiais, a minha mente estava absorta em uma outra dimensão.
O mais incrível era que havia alguém me chamando no fundo. Parecia que era uma criança... Alguém bem próximo de mim...
E nesse meio tempo entre meus pensamentos e a falação de Emily, um lindo garoto com olhos da cor do mar encostou-se à parede logo a nossa frente e começou a encarar Emily e a mim:
-Quem é você? –perguntei impulsivamente.
-Ah Soph... Esqueci-me de te contar! O Diretor Aron tem um filho. Esse é Phillip Medic Carlton. Ele é o amigo que te falei... O meu único melhor amigo antes de tu chegares....
Enquanto Emily falava, pude ver como ele era exatamente. Um garoto magro de cabelos pretos e olhos azuis, cuja beleza de tão resplandecente que era, eu não pude deixar de pensar que esse rapaz era o mais lindo que já havia visto na minha vida toda.
-Uma nova amiga, Emi? Enchanté, mademoiselle! Meu nome é Phillip Medic Carlton como a minha querida amiga desmiolada te disse... E tu? Como se chamas, minha bela dama? –disse Phillip, fixado em meus olhos.
-Meu nome é Sophie Smith... E da próxima vez não chegue assim, sem mais nem menos, okay? Você me deu um belo susto!
-Sim, minha bela dama! Eu só queria saber porquê Emily não apareceu esses dias... Agora entendo o motivo! Ela é uma bela senhorita, Emi! Parabéns!
-Obrigada, Phil! Depois podemos conversar? Tenho que discutir algumas coisas... Agora, deixa eu e minha amiga nos instalarmos em nosso maravilhoso quarto, okay? Vejo-te mais tarde! Tchau!
-Tchau, Emi! Tchau, Sophie! E seja bem-vinda ao Instituto Medic! –disse Phillip, abrindo um enorme sorriso.
Pela primeira impressão que tive, o amigo de Emily parecia ser bem educado, semelhante a um príncipe romântico, visto somente nos romances. Ele e minha amiga formavam um belo casal, de tão lindos que eram... Não é possível que eles sejam somente amigos. Será que ambos não querem admitir o que sentem um pelo outro ou será que eu é quem estava interpretando errado? Acho que não é a hora adequada para fazer esta pergunta a minha amiga.
V
O nosso quarto era exatamente igual ao da Emily: Branco com detalhes em dourado. O mais estranho disso tudo era ver que o branco daquele mármore era do jeito que eu gostava. Imediatamente, lembrei que uma das questões do formulário de inscrição, perguntava qual era a minha cor favorita. É óbvio que era branco nuvem.
Emily, assim como eu, ficou admirada com o quarto e ficou se vangloriando de como éramos perfeitas amigas, pois a combinação de dourado e branco haviam ficado magníficos na decoração.
-Eu sabia que tínhamos bom gosto, mas nem tanto. Olha só para isso! É uma obra de arte! Duvido que alguém faria melhor do que nós... Não mesmo! Somos demais amiga! Ai, ai como eu me amo...
-Sei, sei... Essa minha amiga, viu...
Depois de muito tempo se vangloriando daqui e se orgulhando acolá, Emily pediu para que eu esperasse em nosso quarto e logo foi correndo pelo pátio atrás de alguma coisa que não parecia ser algo... bem, diga-se de passagem, legal.
Quando ela voltou, exigiu que dois meninos, que até aquele momento eram desconhecidos para mim, colocassem duas araras de roupas em nosso quarto e logo os apresentou para mim:
-Soph, esse é o Chase McGarder e esse é o Maicon Xaudez. Serão nossos colegas de sala! Meninos, essa é Sophie Smith, nossa nova colega de classe! Espero que a tratem bem, hein?
-Sim, senhorita Emily! Prazer, Sophie! Eu sou Chase e esse é o meu amigo Maicon. Desculpe, mas ele não gosta de conversar muito... Será que podemos ir agora, Emily? Ainda não arrumamos o nosso quarto...
-Lógico, meninos! Agradeço pela ajuda! E até mais! –disse Emily, levando-os em direção a porta.
-Emi, como você pode fazer isso com os seus pobres colegas? Não tem pena deles, não?
-Calma, Soph! Eles estão sendo pagos para isso! E muito bem pagos, por sinal... Como eu poderia carregar tudo isso sozinha? E a minha pele? E meus lindos pés? Como ficariam?
-Ai, Emi... Mas o que é isso? As suas roupas já não estavam todas aqui? De onde vieram estas?
-Surpriza! São os nossos novos uniformes! Separei esta arara para ti e claro, esta para mim... –disse, apontando-as.- Ainda falta buscar o restante do conjunto do uniforme, mas queria mesmo era te mostrar a versão de verão. Quer ver?
-Ai, ai Emi... O que você aprontou? Vamos lá! O que temos aqui?... –fiquei me perguntando, enquanto abria o uniforme que estava naquele plástico de lavanderia.
Quando abri por completo, fiquei totalmente assustada. O uniforme era muito chamativo. As duas camisas eram brancas, sendo que uma tinha detalhes em dourado na gola, além de rubis incrustados nelas. O casaco era de cor cinza em sua maior totalidade, com alguns detalhes em preto e branco, e nela havia um monte de lacinhos tanto nas mangas quanto nas costas. Havia também um laço que deveria ser usado no pescoço, além de uma saia bufante, cheia de babados e rendas. O pior disso tudo era que as meias e as botas também tinham babados...
Pelo jeito, entrei numa fria e daquelas grandes...
-Er... Emi... O que é isso? Não me vai dizer que vou ser obrigada a usar esta... esta...
-Maravilha? -perguntou-me Emily, interrompendo-me.
-Bem, eu ia dizer esta coisa extravagante... Emi! -gritei.- Você me conhece! Sabe que não gosto de chamar atenção! O que vou fazer? O que as pessoas vão dizer de mim?
-Nada! Todos terão que usar! Quero dizer, o teu tem algumas personalizações minhas, mas nada que chame muito a atenção. Sei que tu me matarias se fosse tão chamativo...
-Hã? Se isto não é chamativo para você... o que será então? Emi, isso seria um escândalo se estivéssemos em Brywood...
-Mas não estamos, não é? Aqui em Denaly as coisas são diferentes, Soph! Usar esse uniforme é uma dádiva para todos nós! Tu deverias se sentir muito honrada em usá-lo...
Emily foi interrompida por uma batida brusca na porta e logo depois por um grito:
-EMILYYYY! Como você se atreve a me vestir desta maneira? Eu nunca que vou usar isto aqui! –gritou Lucas, do lado de fora.
-Lucas? Anjinho, é você? O que aconteceu? Porque essa raiva toda com a Emily? –perguntei, enquanto ia abrir a porta.
-Você já olhou para isto? Olhe o que ela nos obrigou a vestir! –disse Lucas, vestido com o seu uniforme.
O uniforme de meu Anjinho era quase igual ao do colegial. O que mais me chamou a atenção era que o uniforme masculino tinha babados na camisa, colete, bermuda e até nas botas, que mais lembravam ser femininas do que qualquer outra coisa. Tinha até uma boina, iguais as que eram usadas antigamente pelos meninos pobres da Inglaterra. Agora entendo o motivo de tanta revolta de meu irmãozinho... Apesar de que ele ficou muito bem vestido...
-Emily! Como eu vou usar isso? Os meninos vão rir da minha cara! E as meninas então? Nem vão querer olhar para mim... Justamente eu, que sou lindo e irresistível...
-Anjinho! Isso é jeito de se falar? Você me choca às vezes... Um garotinho tão indefeso dizendo essas coisas... Que horror! Onde o mundo vai parar?
-Não liga para ele, Soph! Esses pirralhos já pensam nisso logo cedo... Mas ficou perfeito em ti, Lucas! As meninas vão se apaixonar mais por ti, isso sim! Tu estás um arraso!
-Sério? É bom eu saber disso! Só peço que me prometa que vai me avisar antes de fazer uma coisa dessas! Tomei um susto quando abri o plástico... Mas se as garotas vão gostar... Então usarei com imenso prazer! -disse, sorrindo contentemente.
-Emi, Olhe o que você disse para o garoto! Agora ele vai querer dar em cima das garotas por causa desse uniforme! Lucas, quantas vezes preciso repetir? Você é apenas um menino! E meninos não pensam nesse tipo de coisa, lembra?
-Soph... Quando você vai me entender, hein? Emily, me ajude! Ela não entende que eu cresci!
-Mas, se tu dizes que cresceste, então por quê ainda pedes doce? Garotos maduros não pedem doce, sabias?
-Porém, existem garotos maduros que pedem doces...
Nós três ficamos discutindo por alguns minutos e no final, ninguém entrou em consenso. Para aliviar o clima de discussão, Emily mudou de assunto bruscamente, dizendo que ia buscar o meu prêmio, enquanto que Lucas aproveitou a ocasião para se retirar do local.
Fiquei pensando seriamente na atitude de meu irmão. Ele não era assim antes de sairmos de Brywood. O que será que o fez mudar? O meu momento de reflexão foi interrompido com a volta de minha amiga:
-Aqui está, Soph! Tu vais amar! -disse Emily, entregando-me uma pequena caixa embrulhada por um laço.
O prêmio que Emily tanto falava, na verdade, tratava-se de um anel de platina com um enorme rubi e que deveria ser usado no dedo polegar.
-Somente alunos brilhantes como nós duas podemos ter o privilégio de usar esse anel. -afirmou Emily.
Como as minhas reclamações nunca seriam ouvidas, tive que me conformar com as formalidades deste Instituto.
Após uma longa conversa com Emily, arrumamos o nosso amado quarto e nos aprontamos para o primeiro jantar no Instituto. E pelo jeito, eu iria conhecer todos os nossos colegas de classe... O que será que me aguardava por lá?
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Gut! - Bom!
Etes-vous heureux de toute façon? - E tu estás feliz assim mesmo?
duas milhas - 3218, 69 metros
Enchanté, mademoiselle! - Encantado, senhorita!
Surpriza! - Surpresa!