Eu e Lucas passamos pelo imponente portão e lá dentro tivemos noção da imensidade do Instituto. O jardim era bastante amplo e bem podado, havia diversos bancos espalhados e iluminações posicionadas em pontos estratégicos. O prédio escolar fora um antigo palácio, provavelmente pertencente a uma família da alta nobreza. Tinha cerca de quatro andares, a pintura era de cor creme mesclado com dourado e as janelas eram retangulares e amplas, das quais possuíam painéis em forma de arco bem como gigantesca varanda que se encontrava no meio do imóvel. O acesso à entrada principal se dava pela escadaria, onde era possível ver o hall principal, cercado de objetos luxuosos e coberto por um enorme tapete vermelho.
-É muito luxo para a minha vida! -exclamou Lucas, espantado com a altivez do Instituto.
-Aposto que isso foi obra da Emily. Só ela para exigir da mãe dela uma coisa dessas.
-Ela é estranha! Onde já se viu pedir isso? Assim, fico até com vergonha de dizer que estudei no North Wood... -disse com certa ironia.
-Dá mesmo... -murmurei.- Bom, vamos ver onde faremos o exame.
Andamos e andamos, e parecia que nunca chegávamos ao prédio.
-Será que se passarmos, nós teremos que nos submeter a essa longa caminhada? -reclamou Lucas.
-Não sei... Temos que ver onde fica o alojamento.
-Espero que seja perto, pois do contrário, morrerei de inanição.
Ri do comentário de Lucas por um bom tempo.
-Quer parar de rir? Estou ficando com vergonha.
-Mas ninguém morre de inanição só por andar um pouco.
-Sempre tem a primeira vez.
-Olhe! Já chegamos! -desviei do assunto.
-Finalmente!
-Ora, vós sois a Srta. Smith e Lucas, não é? -perguntou um homem que possuía porte de príncipe, cuja feição era delicada e seus olhos azuis profundos seduziam a todos que o vissem.
-Sim! Mas como o senhor sabe os nossos nomes? -indaguei.
-Deixai-me apresentar! Chamo-me Aron Medic. Sou o diretor desta "humilde" escola. Se vós desejares, podeis chamar-me de Aron.
-É um prazer imenso conhecê-lo! –dissemos um pouco surpresos com a formalidade dele.
-A jovem Emily me contara a respeito dos senhores. Fico contente em saber que uma jovem famosa como tu, estás aqui para prestar o nosso exame. -disse Aron, gentilmente.
-Nem sou tão famosa assim... -disse modestamente.- Mas o senhor poderia me dizer onde será realizado o exame?
-Para que tanta pressa, crianças? Ainda falta uma hora.
-Gostamos de ser os primeiros a chegar.
-Compreendo... -murmurou.- Bem, os exames serão realizados no segundo andar do prédio na ala leste. Entrai pela entrada principal e virai à direita. No final do corredor haverá uma escada que dará acesso ao segundo andar. Lá estarão as listas dos nomes e das salas, respectivamente.
-Obrigada, senhor Medic! -agradeci.
-Boa sorte, meus jovens!
Fomos correndo até a entrada principal. A cada passo que dávamos, maravilhávamos-nos com o local. Emily tinha mesmo um bom gosto, apesar dela exagerar um pouco. Chegamos ao segundo andar e lá estavam espalhados as listas, conforme informou o diretor.
-Gostei do diretor! Ele é gentil. -afirmou Lucas.
-Concordo plenamente! -pausei.- Só agora que me lembrei que a Emily tinha me dito a respeito dele...
-Como você é distraída...
-Acho que preciso melhorar...
Procuramos os nossos nomes nas listas. Eu fiquei na sala 12-A e o Lucas na sala 8-A.
Antes de entrarmos, ficamos conversando por cerca de meia hora. Comentamos a respeito das salas de aula que eram bem anormais para o padrão: Para cada sala havia duas portas, uma no fundo e outra na frente. As janelas ficavam em paralelo às portas. O piso era de marfim e as paredes eram cobertas por painéis brancos com detalhes em dourado. No lugar de carteiras, eram mesas e poltronas acolchoadas de couro, feitas de carvalho e possuía um gancho em cada lado da mesinha, para pendurar a mochila escolar. E o mais surpreendente: do lado oposto a lousa branca, havia sofás, poltronas, mesa de centro, piano e até uma campainha para chamar os empregados. Aquilo sim, que era esbanjar dinheiro.
-Boa sorte, Sapinha! Não se esqueça que não pode colar, ouviu? Estarei de olho em você! -disse-me Lucas, agindo como se fosse um pai.
-Claro que não vou colar! Não sei onde você tira essas ideias estranhas. -disse meio brava.
Entrei e sentei-me na primeira carteira. Fiquei olhando os alunos entrarem e todos, inacreditavelmente, vestiam roupas brilhantes iguais as da Emily. Nem os meninos escapavam. E olha que eles não pareciam ser daqui. A maioria era constituída de ingleses e uma minoria, estrangeira. Alguns até me fitavam, como se me conhecessem, mas não ousavam se aproximar de mim.
Alguns minutos depois, entrou uma garota linda, que usava uma roupa bem ofuscante. Seus cabelos lembravam os da Emily e seus olhos eram cor de caramelo, que me espantavam de tão bonitos que eram. Assim que ela me viu, resolveu puxar conversa comigo:
-Olá! Meu nome é Naja Siunter. E o seu?
-Prazer! Meu nome é Sophie Smith.
-Você não é daqui, né? Eu e minha irmã Janayn moramos aqui desde que nascemos, mas estudávamos em Londres.
-É mesmo? Londres é bem bonito, apesar do denso nevoeiro. -comentei.- Só estou nessa cidade há pouco mais de um mês e sabe que ainda não me acostumei com todo esse brilho...
-Logo você se acostuma. –disse Naja.
Entrou outra garota linda, cujos cabelos castanhos e olhos verdes, destacavam-se da multidão.
-Esta é a minha meia-irmã Janayn Fidelga Siunter. –apresentou-me.- Janayn, esta é Sophie Smith.
-Prazer em conhecê-la! –disse.
-Digo o mesmo. –disse Janayn- Você conhece a banda The Call? Eu amo eles!
-Conheço-os. Até que curto o som deles, mas não sou fã.
-Ah, que pena! Você iria adorar o meu quarto, se gostasse deles...
A conversa durou poucos minutos, pois o professor responsável já estava na sala para aplicar a prova:
-Olá, pessoal! Meu nome é professor E, e hoje aplicarei a prova para vocês. Vou logo avisando que se colarem, podem dizer adeus ao Instituto. –enfatizou-nos um homem belo, que era alto e possuía cabelos negros e olhos azuis esverdeados.
-Sim, professor E! –concordaram os alunos.
-Muito bem! Agora, sentem-se em seus lugares que vou-lhes entregar os exames. Por favor, não virem a prova!
Realizamos o temido teste. Para mim não estava terrível e sim, facílimo! Eram questões bem elaboradas, mas bastava raciocinar um pouco para conseguir resolvê-las. Consequentemente, terminei a prova em uma hora e vinte e cinco minutos e como sempre, fui a primeira a sair. Em contrapartida, Lucas terminou o teste cinco minutos após eu ter finalizado. Assim, saímos do Instituto e fomos direto a cafeteria:
-Tinha que ser a CDF para terminar primeiro... –disse-me Lucas.
-Lucas! –gritei- Quantas vezes já te disse para não me chamar assim? Que raiva! –reclamei.
-Mas é verdade! Você sempre tira nota perfeita em todas as matérias. –enfatizou.
-Tiro porque estudo.
-Não é normal! Nem eu consigo realizar essa façanha.
-Estude mais!
Discutimos por alguns minutos, até cansarmos. Decidimos em seguida, dar uma volta pela cidade, e assim, visitamos as praças e o bairro comercial. E para finalizarmos o passeio, fomos à região norte, onde havia um rio e um antigo moinho de vento, que pela aparência, parecia estar obsoleto há muito tempo.
-Por que você quer ir para lá, Soph? Parece perigoso! –alertou Lucas.
-Eu gosto desse tipo de coisa. Se não quiser ir, vou sozinha! Depois nos encontramos em casa, okay?
-Okay! Não quero topar com os fantasmas. Tchau, Sapinha! –fugiu, amedrontado.
-Tchau!
Fiquei pensando se foi uma boa ideia tê-lo deixado voltar sozinho para casa. Deveria parar de pensar que ele ainda é uma criança. Já é pré-adolescente e sabe se virar muito bem.
Fitei aquele local durante um tempo e fui me aproximando lentamente. Hesitei por um momento, mas inexplicavelmente, sentia que devia me aproximar daquele lugar. Então, prossegui e deixei a incerteza de lado. Quando me aproximei, vi que no alto havia um medalhão pendurado e era tão reluzente que com certeza, a Emily iria amar. É isso! Vou dá-lo como forma de agradecimento. Ela me ajudara tanto desde que cheguei aqui e, portanto, merece um presente que esteja à altura dela.
Antes de sair do moinho, certifiquei-me se ninguém havia me visto “roubando” aquele medalhão. Vi que não. Logo o guardei e voltei para casa. Se ninguém der por falta dele, o entregarei, sem remorsos.
II
Depois de ter prestado o exame, a única coisa que eu pensava era se havia passado na prova. Enquanto os resultados não saíam, passei as férias no atelier da Emily. Tinha o tamanho de uma pequena mansão e cada secção separava os tipos de roupa que ela criava. Emi desenhava as roupas para mim com tanto prazer que no mínimo deve ter criado uns 30 modelos, um mais lindo que o outro. Ficava até com vergonha em vesti-las, por serem tão chamativas. Mas ela sempre dizia:
-Tu deves ficar linda para impressionar a todos!
Nunca tive uma amiga que fizesse tanto por mim e que fosse tão sincera. Deveria tê-la conhecido antes.
III
Passaram-se duas semanas e finalmente chegara o dia de anunciar o resultado:
-Bom dia, Soph! –apareceu Emily na porta de minha casa às sete horas da manhã.- Não vais acreditar no que a mamãe me contou! Ela me disse que teve alguém que acertou tudo!
-Essa pessoa deve ser um gênio! –exclamei.
-Vai lá! Vais se surpreender! –piscou-me, como se soubesse quem era essa pessoa.
-Imediatamente! Vou até acordar Lucas. Ele precisa ver o resultado dele.
Acordei Lucas com tanta pressa que ele até se esqueceu de trocar de pijama e deixar o seu ursinho de pelúcia, o que assustou o motorista que nos levara até o Instituto. Pensou até que fôssemos loucos e quando descemos, gritou:
-Nunca mais voltem a pegar esse táxi!
Fingimos não ter ouvido isso e andamos até o pátio central, onde havia a lista dos classificados:
12º ano
- 1º Sophie Smith - 100%
- 2º Angus MisterTan - 94%
- 3º Naja Siunter - 93%
- 4º Janayn Fidelga Siunter - 92%
...
Só consegui visualizar o topo da lista. Havia tanta gente no local que nem dava para ultrapassar a barreira humana que havia lá.
Emily apareceu dois minutos depois que eu vi os resultados:
-Soube dos resultados ontem à noite e não imaginas como me surpreendi com teu resultado. Sou maravilhosa, não sou? Ensinei tão bem que tu conseguiste uma nota perfeita. Sou demais! –vangloriou-se.- Adoro fazer todo mundo feliz!
-Controle-se! –disse.- Assim você espanta todo mundo.
-Eles já se acostumaram! Agora vem me dar um abraço! –abraçou-me fortemente.
-Assim você me machuca! –reclamei.
-Como sempre, eu fiz alguém muito feliz! Eu sou demais mesmo! Ninguém supera a minha divina inteligência... –gabou-se novamente.- Adoro-te amiga!
-Também te adoro, mas poderia me largar, por favor? Você está me sufocando!
-Certo! Mas antes, diz que sou demais!
-Você é demais... Agora vamos comemorar!
-Claro! Nós merecemos! –enfatizou.
Lucas também tinha passado, para a felicidade nossa, apesar dele ter sido alvo de risadas de todos os presentes naquele pátio. Mas como ele estava bem contente, acabou nem ligando com os comentários. Dessa forma, fomos até a minha casa e comemoramos com deliciosos bolos e chá com leite. Enquanto Emily estava distraída, fui até o meu quarto e peguei a caixinha de presente. Escondi atrás das costas e dirigi-me até ela:
-Emily, como agradecimento, gostaria de te dar este humilde presente.
-O quê? É para mim? Obrigada, Soph! –emocionou-se.
Emily abriu a caixinha com extremo zelo e quando viu o medalhão, soltou um grito:
-Que lindo!! –pulou- Combina totalmente comigo! Adorei! Muito obrigada, Soph! Tu és minha melhor amiga! A melhor de todo o mundo!
-Assim fico com vergonha! –ruborizei.- Achei-o perdido no moinho. Logo que o fitei, pensei em ti. Aí eu peguei e fiz esse colar para você. –expliquei.- Que bom que você gostou.
-Amei! Vou estreá-lo no primeiro dia de aula! Todos irão morrer de inveja de minha pessoa. -riu.- Por acaso é um agradecimento pela ajuda que te dei?
-Sim, mas também porque eu te adoro. –pisquei.
Passamos a tarde conversando e ficamos imaginando como seria nossa vida no Instituto. Adoraria ter a Emily como minha companheira de quarto. Tenho certeza que se isso acontecesse, passaria os meus dias mais inesquecíveis. Ela agora era minha melhor amiga. Única e intransferível.